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Se você é Maçom com certeza já ouviu as expressões sagrado e profano. Se não é, provavelmente já ouviu também. Mas a pergunta que faço é a seguinte: será que você sabe exatamente o que esse vocábulo quer dizer? Será que realmente há algo de pejorativo e insultante em chamar alguém de profano?
Vou tentar esclarecer.
A expressão “profano” é um adjetivo formado pela aglutinação do prefixo latino pro (antes, anterior, do lado de fora, externo, etc.), e fanum (templo), formando o
vocábulo original profanum, que significa literalmente “aquele que está do lado de fora do templo”.
Como a expressão é latina nossa ideia imediata é que seu uso tenha se originado no Império Romano, o que é verdade, porém o conceito é bem anterior, e remonta às antigas Tradições Iniciáticas já existentes na Suméria, Egito e Grécia.
As antigas Tradições Iniciáticas destas civilizações não permitiam o acesso de qualquer pessoa a seus ensinamentos. Para ingressar numa destas Escolas de Mistérios os candidatos tinham que se submeter a uma rigorosa seleção que ia desde a análise do caráter e antecedentes do candidato, até a comprovação de sua coragem e determinação.
Após essa fase probatória os candidatos admitidos se tornavam Iniciados, e a partir daí adquiriam o direito de participar das reuniões e receber os seus ensinamentos.
Estas reuniões, onde ensinamentos místicos e esotéricos eram ministrados aos participantes, eram realizadas num local considerado sagrado que se denominava templo, obviamente resguardadas as diferenças entre cada idioma.
Ao ingressar nestas Ordens Iniciáticas os membros prestavam juramento de não revelar a estranhos nada do que se passava no interior dos templos. Desta forma os Iniciados, que obtinham permissão de acesso mediante senhas e códigos só conhecidos dos membros, podiam ingressar no templo, e os que não eram Iniciados ficavam do lado de fora. Assim, fica claro que os que não podiam entrar nos templos Iniciáticos não o faziam porque eram leigos, estranhos àquela sociedade, e não porque não queriam ou< por aversão a tais Escolas, muito embora também houvesse casos assim, é claro.
Tanto esta prática quanto este conceito chegaram a Roma, e por consequência, após sua conversão à fé Cristã, à Igreja. Foi aí que surgiu o conceito de sagrado, sacro, ou Iniciático para tudo aquilo que era velado e só transmitido a um seleto grupo de pessoas: os que tinham permissão de ingressar nos templos; e profano: para os leigos não Iniciados que ficavam do lado de fora.
Mais tarde a Idade Média deturpou o conceito original do termo profano e lhe atribuiu o significado de tudo aquilo que transgredia regras sagradas ou não respeitava a doutrina religiosa. Profano, impuro, ateu e herege tinham praticamente o mesmo sentido nesta época. Profano passou a ser antônimo de fiel.
Foi também neste período negro da História que surgiu o verbo profanar, aplicado a ladrões que violavam túmulos e roubavam igrejas. Esta expressão ganhou ainda um simbolismo mais pernicioso no século XX como consequência das descobertas de túmulos de faraós egípcios, expandindo-se ao cinema e tornando-se mais popular com os famosos filmes sobre múmias ressuscitadas que vingavam a profanação de seus mausoléus.
Na verdade, se considerarmos que o verbo se originou da prática de permanecer do lado de fora dos templos, ou seja, de ser um leigo ou um não Iniciado, o significado correto do verbete profanação deve ser entendido como tornar público algo que é velado e de conhecimento restrito, nada mais.
Ser profano não é cometer um crime, nem tampouco algum pecado. Ser profano é apenas e somente ser leigo em relação a um determinado assunto de domínio limitado a determinada classe, da mesma forma que existe o civil e o militar, o público e o privado, o sacerdote e o fiel. O conceito de profano na verdade representa condições opostas: o comum e o sagrado, o leigo e o Iniciado, o material e o espiritual.
Portanto, se daqui pra frente você ouvir alguém se referir a você como um profano não se ofenda. Não há nada de pejorativo nisso. Mas se isso realmente o incomodar, é porque na verdade a condição de não Iniciado o aflige, não o termo.
Talvez esteja na hora de você se tornar um Iniciado. Já pensou nisso?
SERGIO EMILIÃO
M.I.
FR+C